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Sentimento em estiagem


Hoje nem a poesia me bastaria

Num dia gris não ousaria
Manchar as virgens folhas brancas
Com lágrimas quase secas
De um sentimento em estiagem

E mesmo que o poeta crie coragem
Tudo que sentia me falta
Qualquer perdido sentimento
Está tão distante, brumado a se espalhar,
Que não vale muito procurar
Mas é exato o momento
Em que eu tento te esquecer
E acabo por lembrar

E vão chegar
Novembro, Outubro e Dezembro
E se eu bem me lembro
Nenhuma esperança
Que eu possa me apegar

Tudo ainda é sem graça
E continuo querendo esquecer
Com garra, na raça
Mas tudo é confusão,
É turvo e incerto

De concreto só esse coração
Pulsando em protesto
Enquanto me testo
Querendo sim e dizendo não
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Certo sentimento incerto


Certo sentimento incerto
De concreto só o desejo
De por alguns instantes te amar

Certo sentimento incerto
Quando perto
(- e sempre estou)
Não consigo pensar

Coração indeciso, confuso.
Mas decisões corretas
Sempre foi papel da razão
Coração desses que batem
Só no peito humano
Sempre tem medo de engano,
De sofrimento e solidão.

Não é diferente o meu coração
Divido por um certo
sentimento incerto
Que te lembra muito
E justo por te lembrar tanto
E em pranto se agarrar
Cansou da incerteza,
de não te ter
E te amar

E nesse conflito aflito
O meu coração
Perdido nesse certo
sentimento incerto
Pode ser forçado
A pior forma de tortura
Que eu vejo pra nós dois
Que é te querer
E escolher te dizer não.
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O que mil cantos nunca disseram

Cala, mas como assim?
Diz numa poesia muda
O que mil cantos nunca disseram
de mim...

Diz num gesto despido o que
A mentira me escondeu
Mostra num olhar marejado
O que ninguém mostrar escolheu

O que não dizem de ti e de mim
Foi o que você dizer escolheu

E assim acabou dizendo bem mais
Que qualquer um
Em qualquer palavra
Dizer resolveu
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Neve, Rockefeller Center e Você

O sono cansou minhas pálpebras e antes que eu pudesse reagir, sono profundo. Logo eu que não gosto de perder um só minuto acordado, dormi mais cedo que o de costume. Não sou muito de sonhar, ou se sonho, não sou muito de lembrar. Raros são os sonhos que eu guardo, mas acordado, acordado eu costumo sonhar e lembrar. Convido sonhos pra viver realidade todos os dias e nessa noite Sonhei com Você. Guardei cada detalhe, esculpido pela noite, na lembrança.
Passeávamos na neve, e rolávamos juntos como rolam as crianças dos filmes de Holiwwod. Éramos os protagonistas, arremessando bolotas e trocando sorrisos, deitados na neve fazendo anjinhos, patinando no gelo e trocando olhares de mãos dadas. E como parecia confiante a tua mão segurando a minha. Ah... Lembro também de um presente, isso mesmo, um presente que ti dei quando chegamos no meio da pista de gelo.

Já disse que a pista era ao ar livre, num lindo parque em Nova York? Se não me falha a memória Rockefeller Center. Eu não gosto muito de Nova York, mas ao seu lado era o lugar mais perfeito do mundo, o lugar mais lindo... um sonho dentro de outro!Voltemos ao presente: No meio da pista de gelo eu lembrei que trazia algo no bolso, era estranho lembrar que o trazia mesmo sem saber ao certo quando e como foi parar lá, era um presente pra você. Tirei uma caixinha delicada, semelhante aquelas que guardam alianças, Você sorriu e uma brisa fria, mas agradável, soprou. Foi um sinal, foi o momento em que o mundo fez sentido. Tua pele/neve avermelhou-se e teus olhos perdidos no tempo me forçaram a perguntar o que foi. Meu vício sempre foi perguntar mesmo tendo vaga noção dos teus pensamentos.
Tirei da caixinha uma gargantilha de ouro, um pingente de cristal e um laço. Laço? Sim, um lindo laço que poderia se orgulhar de ser um laço se laços tivessem como manifestar o seu orgulho. Enfeitei os teus cabelos com Ele depois de colocar a gargantilha em volta do teu pescoço. Laços não estavam na moda, mas a moda não entende muito de sentimento e nem de pedacinhos de eternidade como entendem os poetas e os laços. Sei que a ultima coisa que vi foi o sorriso mais lindo que meus olhos, fechados, já puderam enxergar.
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Canção do poeta insano

Nada como o colo confortável da Estrela
O branco das nuvens em contrate com o céu
Um sonho insano
E um sentimento novo
Que não arreda do coração
E aquela canção que colou no pensamento
A trilha perfeita pro meu momento de Pierrô apaixonado
Pescando sonhos
Montado numa lua de mel
Sou eu um poeta na rua
Olhando pro alto
Fazendo de palco qualquer banco de praça
E a graça desse poema maluco
Sou eu caduco assoviando pro tempo
Gritando meu mais novo sentimento
Pra qualquer um que queria mesmo ouvir
Enquanto me vê sorrir
De coração exposto
E rosto completamente nú
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A minha quadrilha


Ele amava Ela
Que amava Outro
Que a amava
Ele tentou detê-lo
Ela se irritou
E fortaleceu o Outro
O Outro só a amava puramente
Ele doentemente cegamente
Ela magoou
E o Outro que sabia dançar
E sabia o sentido da dança
Dançou no salão e não na vida
Ela sentiu muito
Mas na vida não quis dançar
Aproveitou o salão
O Outro
O Amar...
Tudo pode acontecer entre o viva os noivos
E o ultimo passo.
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Sobre aquele Cristal


Vi um cristal cair
Branco, limpo, puro...
E não pude alcançá-lo
Antes que tocasse o chão
Negro, sujo, duro...

A energia do cristal
Parecia ser mais forte
Que qualquer arranhão ou corte
Que viesse o machucar

(- espero que eu esteja certo)

Anestesiado naquele lugar
Eu ainda o tentei proteger
Correr, pular, gritar...
Colocar-me entre Ele
E o mundo,
Mas foi inevitável!

Mesmo que eu o quisesse
Parado no ar mais que tudo
A gravidade é uma só para todos
Pros sábios, pros leigos
E pros tolos
Mesmo que eu tente
De mil formas voltar atrás.
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