Pedaço da alma

O pedaço da alma que te entreguei
Tinha o sabor do passado
O futuro riscado
Numa nuvem no céu

O pedaço da lama que te entreguei
Trazia minhas mais intimas verdades
Minhas mais loucas vontades
Que a ninguém confessei

O pedaço da alma que te entreguei
Tinha presente e futuro
Seguro e inseguro
Caminhando de mãos dadas

O pedaço da alma que te entreguei
Eram confusos escritos
Transcritos pelo mesmo sentimento
Que no coração eu guardei.

Presente do tempo

Você conhece meus olhos
Sabe onde miro
Mesmo quando estou distante
Mesmo quando estou vagante
Dentro de meus pensamentos
Sabe bem quem sou
Não precisa de olhos alheios
Leitora de minha alma
O tempo te fez mestre em me decifrar
E sentir mesmo de longe o que sinto
Esses atributos são presentes divinos
Que apenas o tempo pode nos proporcionar...

Em ponto morto

Em ponto morto o carro acelerou ladeira abaixo
Ponham em sua conta todo e qualquer prejuízo.
O sumiço do juízo, a vida sem limite,
A piora da rinite, os dias embriagados.

Acrescentem também o joelho ralado,
O mergulho no poço, a dor no pescoço
A vida bandida, a eterna ferida,
O dinheiro rasgado, o amor em pecado.

Ponham ainda a vista turva, a distorção
O momento de confusão, a arte ao avesso
A briga, o tropeço...
Os torpes momentos de tensão.

Mas não deixe de creditar o recomeço,
A ressurreição, o horizonte em nova versão,
A chance de fazer diferente, o amor ardente
Em sentimentos transcritos a mão...

Abatido olhar

A gota escorreu face abaixo
Em caminhos sombrios
Maquiado risco rubro
Deu um ar solitário a face nua.

Lábios carnudos,
Bochecha rosada,
Nariz afilado desenhado
Tal qual o rosto de uma boneca.

Mas os olhos eram tristes!
Choravam num silêncio penoso.

Se observados bem de perto
Dava pra ver num canto encostado da alma
Um amor esquecido.

Se eu acreditasse na morte do amor
Diria que ali encostado era um amor velado
Não pelos tristes olhos chorosos
Não tinham os traços de um suspeito
Eram expressivas vítimas cravadas num rosto

O mundo era suspeito...

Todo o resto servia de prova para o crime
Menos o abatido olhar
Ele parecia não esquecer
Um só momento eterno gravado na retina.

É um fiel defensor da eternidade
Num momento humano
Chorando de saudade.

Eu vou mostrar pra você

Eu vou mostrar pra você
Que eu sou e sempre fui a sua outra metade
Que apesar de não mostrar eu sinto uma saudade
Que aperta o meu peito
reacende a paixão

Eu vou mostrar pra você
Que amor mesmo desse jeito, amor de verdade
só acende em um peito a eternidade
uma vez na vida inteira
ataca o coração.


Não vou deixar o amor fugir
sem ao menos reagir
ver você indo embora
no horizonte sumir

não vou deixar
o meu grande amor zarpar
nem que todo um oceano
eu precise nadar
pra fazer você escutar
a doce voz desse meu coração