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Livre queda, queda livre.

Livre queda, queda livre.

Soprei as nuvens numa tentativa desesperadora de tirá-las do caminho
Estavam na trajetória da colisão...
Soprei...
Soprei...
E soprei...
Abriu-se uma janela no meio da imensidão azul
E não poderia ser pior...
Mergulhei rumo ao solo duro, áspero e impiedoso...
Por que não o oceano?
Pane nas turbinas.
Tentei planar
E as asas não sustentaram.
Tentei subir
E encarei o mundo lá embaixo.
Quanto mais puxava o manche, mais fundo era o mergulho
Junto à queda sonhos, histórias, uma vida inteira...
Abri os braços,
Não tentei me agarrar em nuvens!
Fechei os olhos,
Não esperava acordar de um sonho!
A gravidade destruiu o que sobrou de esperança.

Jonas Einde
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VERMELHO SANGUE

Vermelho sangue.

Vinha tão distante e confortável
Quando as pétalas de uma rosa sangue
Caíram no meio do caminho

Bem no meio do caminho!

Poderiam ter caído longe
Ou que caíssem aqui mesmo
Ao colo de ventos fortes
Que soprasse-as pra longe do meu caminho
Do meu confortável caminho de sempre.

Tiraram minha paz, meu conforto, meu chão...
Onde costumava pintar outros tons
Se espalhava gris... vastos campos gris...
Cinzento céu gotejado de sangue
Numa lembrança preta e branca
De rastros rubros...

Segui-los não poderia!

Mudar o curso talvez?
Abandonar os caminhos de sempre
Seguindo rumo a outros vocês
Mudei o curso
Mas ainda carrego batendo no peito
O vermelho sangue das tristes
Pétalas caídas na estrada...


Jonas Einde
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ASSUNTO PROIBIDO

Assunto proibido.

Haverá no olhar de muitos o medo
E sussurrarão escondidos nos cantos
Como quem fala de algo proibido
Haverá aqueles com vergonha de senti-lo
Outros até de pensá-lo
Haverá na face um ar de não aceitação
Um porque diferente
Um porque de estar sentindo
E sussurrarão mais uma vez escondidos
AMOR, AMor, Amor.. amor, amo, am?
Em voz tão baixa covardemente inaudível
Haverá ainda os poucos que aceitem
E dentre esses poucos
Haverá uma parcela ainda menor que o compreenda
Haverá os que nunca ouviram falar
E o assunto amor será proibido
Numa censura calada
Haverá quem o cante e quem o escute
Uns ouvirão lendas, outros verdades
Haverá quem seja açoitado por heresia
Queimarão os poetas em fogueiras
Haverá quem os chame de insanos
Haverá quem observe calado
Haverá sempre alguém corajoso
Haverá sempre um louco açoitado...

Marvin Andrade
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RECITADO AO VENTO

Recitar ao vento.

Li tuas palavras enquanto voavam
Li cada uma antes de partir
O vento levou tudo pelos ares
E escreveu muitas outras
Antes de sumir...
Ainda acertou meus olhos
Tua não palavra veio a me atingir
Escritas na areia pude perceber
Palavras sem força, sem forma,
Frágeis a morrer.
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VELA

VELA

Na vela toda uma esperança
A única luz na escuridão
A única chama que aquece a alma
A única força sustentando as pernas
Chama que acende cada coração
Chama que alimenta a fome
Que avisa ao homem
Que nem tudo está perdido
Enquanto há fogo há luz
Enquanto há luz há esperança.
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Ela

Ela


Ela acaba de deixar a minha vida
De deixar um vazio

Ela foi e levou junto tanto
Que esses versos são daqueles
Que eu não queria ter escrito

Ela levou junto meus planos
E roubou parte do meu futuro

Quanto sou eu Humano!
...

Mas me tornou ainda mais poeta
Que ama e que sente dor
E nunca desacredita no amor
Me sinto um tanto incompleto
...
Ela calou o poeta!
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A MELHOR HORA

A melhor hora

Foi por esperar
A melhor hora
O melhor dia
O melhor tempo
A melhor oportunidade
O melhor momento
A melhor ocasião
A melhor resposta
A melhor abertura
A melhor solução
Que algumas pessoas perderam
A chance de ser feliz
Cultivando no peito
SOLIDÃO!!!
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DIGAM-LHES

Digam-lhes

Digam-lhes que eu estou atento
Não posso curvar as pernas
Baixar os ombros
Arder os olhos...

Digam-lhes que estou alerta
Sem descuidar de nada
Sentindo tudo
Enxergando longe...

Digam-lhes que estou de pé
Mas não posso ir
Nem me daria o luxo
Em tempos de guerra.

Digam-lhes que presto socorro
Enquanto me curo
Descanso acordado
Acreditam em mim?

Digam-lhes que esse é meu jeito
Que sigo esperançoso
Enquanto no peito
Bater um coração.
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PORTO INSEGURO

Porto inseguro

E de repente
Uma vontade de chorar
Nó na garganta
Aperto no peito
Mais um adeus
A você que partiu
E me deixou no porto
Num porto inseguro
Com saudade
Com lembrança
E pouca esperança...
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AINDA VEJO VOCÊ

Ainda vejo você.

Ela me faz olhar pro céu
Em noites tristes
Juntar estrelas
Tranqüilizar a saudade
Ela me faz viajante
Em pensamentos alheios
Desprendidos do mundo
Tocar o improvável
Apalpar o impossível
Ela me faz olhar pro céu
Sorrir pra vida
Muito mais vivo
E torna inesquecível
Um dia tão simples
Ela me faz olhar pro céu
Acreditar em milagres
Sentir os seus beijos
Sonhando acordado
Ela me faz olhar pro céu
Ainda vejo você
Com tanta clareza
Enfeita o futuro
Me pondo na cama
Mesmo distante
Sempre mais feliz...
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ÚNICA PALABRA




Ayer no escribí
Mi alma estaba tranquila
Mi sentimiento dócil
Resolví serenamente leer
Causar inestabilidad
En el alma que descansa
Leí tus correspondencias
Leí tus garabatos en mis cuadernos
Bellas palabras…
Bellos sentimientos transcritos
Leí tus mensajes
Tus correos electrónicos
Leí tu felicidad en las fotos
Y al final tenía leído nuestra historia
Que me llenó de soledad
De envidia de un pueblo
Que tiene una palabra sólo
Para tanto sentimiento insertado
Pido permiso a mi lengua materna
Para expresar todo lo que siento
En una única palabra
SAUDADE…
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NÃO QUERIA TÊ-LOS ESCRITO

Não queria tê-los escrito

Não queria cantar o sofrimento
Não queria retratar a desilusão
Não queria organizar frases tristes
Não queria transcrever solidão
Não queria versificar perdas
Nem a dor de um coração
Existem poemas que eu não queria
Tê-los escrito
Mas sou poeta
E enfrento difíceis tarefas do ofício.
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PARABÉNS PRA VOCÊ

Parabéns pra você.

Nesta data querida
A felicidade está incompleta
Não encontrei o meu sabor favorito
Tudo tinha o mesmo gosto de nada
Não recebi felicitações
Da única voz que costumava acariciar
Meus ouvidos em dias assim
Algumas vozes me extraíram sorrisos
Tímidos e ligeiros sorrisos
Durante todo o dia
Os presentes não me surpreenderam
Não me causaram nenhuma vontade
De abri-los, olha-los, senti-los...
Pareciam sem cor,
Sem cheiro,
Sem forma...
Hoje, parabenizemos a tristeza
Que bateu recorde de intensidade
Que conseguiu arrancar lágrimas
De olhos que há muito tempo apenas sorriam.
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AOS POUCOS

Aos poucos

Vai me matando aos poucos
A cada porta retrato virado
Movimentos individuais
Pensamentos indiferentes
Vai me matando aos poucos
Se encorajando passo a passo
Mirando longe até me perder de vista
E não me sentir como parte de você
Vai me matando aos poucos
Fantasiando a liberdade
Sou agora alegoria de defeitos
Desfilando rumo ao esquecimento
Vai me matando aos poucos
Descuidando do amor verdadeiro
Procurando a solução sozinha
Escondendo-se por detrás do medo
Vai me matando aos poucos
Enquanto o tempo faz seu serviço
Enquanto o medo encoraja a covardia
De desistir do amor, do futuro, da alegria...
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O PIOR POEMA

O pior poema

A pior escolha
A pior roupa
A pior companhia
A pior decisão
A pior festa
O pior dia
A mais triste palavra
A mais saudosa lembrança
A mais negra noite fria
A mais verdadeira lágrima
A mais angustiante hora
O mais solitário dia
A fé acesa
A certeza
A agonia
A fraqueza
A tristeza
Pela frente um interminável dia...
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FALTA

Falta

Redescubra o sentimento escondido
Entranhado na alma esquecido
Ofuscado por momentos de felicidade
Vazios e ilusórios momentos de felicidade
Redescobre a paixão que não foi tão longe
Não tenha medo de dar chance a ela
Que renascerá mais forte do que nunca
Se a medida do sentimento
For a falta
Já tenho real noção de quanto é grande
O amor que sinto por você.
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CONVITE

Convite

Já tarde da noite adormeci
Acordei junto ao dia
Que me convidava à vida
Chamou-me pra passear
Pra cantar
Pra ser feliz
Mas a minha felicidade
Naquele dia lindo
Estava longe
Distante
Vagando no desconhecido
Enquanto eu tentava lutar
Contra a falta de sono
Que me mostrava um dia lindo
Em um momento triste...
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®

Não merece título

Queria ser maquina
E formatar a memória
E apagar o passado
Friamente fingir que nunca existiu
Mas não sou máquina
E a falta corrói
O que de pé ainda restou
Meu alicerce sumiu.
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MAR, ONDAS E VENTO.

Mar, ondas e vento.

Dar espaço... distancia.
Esperar o resultado do tempo
Sentei a observar o ir e vir das ondas
Na esperança de que elas não possam apagar
O que tão cuidadosamente foi escrito

Dar espaço... distancia.
Enquanto ela voa bem lá no alto
Em ares de liberdade
Vai cada vez mais longe
Diminuindo lá no céu
Entregue as rotas dos ventos
Que podem levar embora
Longe dos olhos que miram o céu
Desfazendo o elo que ainda resta...

O que o vento trás pra perto
Também o vento leva
Pode soprar tão forte
Pode levar tão distante
A ponto de trazer solidão.
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BEIJOS OU PÊSAMES.

Beijos ou pêsames

Foram os beijos mais secos
Que já recebi.
Nem mereciam versos
Os mais tristes beijos.

Vocalizados em uma voz fraca
Sem motivação alguma
Nem pareciam beijos!

Tinham apenas o formato ilusório
De soltas notas
Que desenhava pêsames
Em uma curta e gélida
Saudação de adeus.
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MOVIMENTOS COVARDES

Movimentos covardes

A cada movimento retrógrado
Fere-se o sentimento
Rumo à morte
Movimentos covardes
Sem possibilidade de reação
Um refém amarrado ao tronco
Esperando o açoite desprotegido
Em volta ninguém parece escutar
São dois sons...
Ouvidos apenas pelo coração açoitado
O som da lamina que extrai lembranças
E o grito que ecoa dentro de si mesmo.
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INSONE

Insone.

Ao contrário do que pensei
A noite foi longa!
Tentei lutar contra a falta de sono
E o resultado: Derrota esmagadora!
Além do sono faltava mais
Onde, agora, sobra espaço
Costumava transbordar
De tão cheio que era
Era costume dividir com todos
Enquanto um olhar sorridente
Denunciava o estado de minha alma...
E agora? E agora, choro enquanto relembro
E revejo as imagens da felicidade
Daquele olhar sorridente que dividia com todos
Voltando os olhos para mim mesmo agora
Não consigo sorrir nem um tantinho se quer
Lembro de ter feito do meu olhar sorridente
Motivo para tantas outras pessoas sorrirem
Queria eu me olhar no espelho
E recuperar a minha noite de sono...
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AUSÊNCIA, NADA OU CANSAÇO.

Ausência, nada ou cansaço.

Inflou tanto de ausência que estourou
Sufocou boa parte da lembrança que restava
Destorceu a que permanecia viva
Tudo parece nada
Volto a dormir, espero acordar bem
Talvez tudo não passe de um grande pesadelo
De uma grade peça pregada pelo cansaço.
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