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Nem mesmo o tempo

Nem mesmo o tempo
Posto que não sabemos o que fazer dele
Pode extinguir do peito
Um amor que ali viveu

Amores não morrem!

Não se culpe e não se esforce
Numa tentativa em vão

Querer enterrar um amor
Que habitou um coração
É querer atacar de mãos despidas
A ponta afiada de uma espada

Amores congelam,
Turvam e embaçam,
Mas morrer mesmo
De morte morrida
O amor não morre

Tem espaço em um coração
Reservado pra mil amores
Mesmo querendo pra sempre
Um mesmo amor cultivar

Podem ser, esses amores ingratos,
Esquecidos no mais profundo canto do peito
Pra que um novo amor intenso
Tenha também o seu espaço

E mesmo querendo encontrar
Um amor pra vida inteira
Não é matando a minha maneira
De me livrar de um pedaço

Alimento pouco o passado
E o hoje eu abraço

Pra surgir um lindo laço
É preciso confortar o presente

E aquele amor ausente
Vai saber o seu lugar

Ponho ingrato o amor em seu canto
O canto que lhes é de direito
Que seja envolto em esquecimento
E mal alimentado o infeliz
E nesse fraco momento
O antigo amor murchará

Lembrarei de mil eternidades
Mas amor mesmo de verdade
É esse que deita em meu colo
Em verbos conjugados no presente
Sorri o sorriso mais lindo
Pleno, leal e inteiro
Não tendo motivo mais verdadeiro
Para a um novo amor me entregar.
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A Rosa e o Sol

A Rosa encarou o Sol
Que girou em volta dela
A Rosa confrontou o Sol
Grande, firme e bela

A Rosa disse ao Sol
Que não queria confusão
Queria outro lugar
De Rosa em uma canção

O Sol disse que Não
Que a Rosa aceitasse o papel
De bela rosa num jardim
Enquanto ele ocupava o céu

O Sol se surpreendeu
Quando também escutou não
- se eu quiser (Bateu o pé a Rosa)
Ocupo uma constelação

- E você quer ser estrela
Delicada Rosa miúda?
A Rosa disse que sim
- Minha vontade não é absurda

E se eu quiser ser Sol
Te prepara pra concorrência
Por que você foi menos Sol
Quando me julgou por aparência

O Sol deu espaço à Noite
E escureceu a imensidão
A Noite espaço a Rosa
Agora Rosa em uma constelação
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Pequeno verso

Sorriu pra mim
E esse pequeno grande verso
Já é, só, um poema todo
Com início, meio e fim.
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Estrela terrestre

Deixei de me apaixonar por estrelas do Céu
Apesar de lindas
E ainda me manter iludido
Mudou meu pedido
Desejo agora uma estrela da Terra
E quem pensa que o meu verso se engana
Ou mesmo meu verso erra
Por não cantar céu e mar
Não encontrou um só olhar
Como na Terra encontrei

Vinicius de Oliveira
(Imagem do filme star dust)
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Mais um escrito destinado ao tempo ou a falta dele

Na melhor das hipóteses pirei
Deixei o tempo passar olhando nuvens
Que se desfizeram na primeira oportunidade
Saudade do ultimo desenho
Numa tentativa de imitar posturas de ioga cai
E machuquei o joelho
Sangrou e eu nem parei pra limpar
Apenas deixei sangrar e sangrou
Até que parou...
Dizem que o tempo é o melhor remédio
para algumas enfermidades. Será?
Meu professor de ioga disse que não posso ser coelho
Tenho que imitar em câmera lenta as tartarugas
Em câmera lenta?
Já não andam as tartarugas assim?
E me irrita a sua lerdeza
(Não! Recomporei esse verso anterior)
"E me inveja a sua lerdeza"
Diz também o mestre que minhas rugas
Vão aparecer em breve
Se a um sono leve eu não me entregar
- Mas como andar devagar
Se tudo anda ligeiro?
O tempo inteiro rogo aos céus por mais tempo
E aquele momento ao teu lado quando noto
PASSOU...
Passou o tempo que era pra ser lento
Veloz e atroz como num recado silencioso
Me dizendo o quanto sou pequeno
O quanto sou passageiro em seu tempo
O passado engole o presente
Tão rápido quanto extraiu o sabor
De um chiclete fajuto na boca
Na melhor das hipóteses pirei
Deixei o tempo passar olhando nuvens
Que se desfizeram na primeira oportunidade
Saudade do ultimo desenho
Do tempo em que tempo não era prisão
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