
- Quem você levaria pra uma ilha deserta?
Aquela pergunta ecoou em meus ouvidos num incômodo passeio interior. Antes de falar qualquer coisa, relembrei de todas as respostas românticas dadas por distintos olhos quaisquer, mas os olhos que antes respondiam rapidamente antecipando até mesmo o que a boca viria a proferir, não eram os meus.
No eterno momento em que antecedia a reação do resto do corpo meus olhos eram vagantes criaturas perdidas no espaço e tempo. Bem que a boca tentou dizer algo rápido, pouco ensaiado, maquinado e bonitinho, mas meus olhos encararam o nada e a voz calou num silêncio íntimo. Meu interrogador insistiu:
- Quem você levaria pra uma ilha deserta? Tem que ter alguém!
Aquela exclamação ainda me soou pior que a pergunta. Por que tem que ter alguém? Mas o entrevistador era o homem alto e friamente firme a minha frente, e não eu! Responder uma pergunta com outra não é muito inteligente.
Mirei os olhos curiosos e bem treinados do meu interrogador enquanto alongava meu silêncio. Escorria testa abaixo um suor que acusava a impaciência nitidamente chovida por todo seu rosto. Senti que ele entendera meu recado ocular antes mesmo que qualquer outra coisa, mas mesmo assim resolvi dar a tão espera resposta:
-Pra uma ilha deserta eu levaria a solidão! - Respondi com uma voz gélida sustentando olhos ainda mais perdidos no tempo.
O entrevistador emudeceu e a melancólica resposta o deixou temporariamente sem palavras. Transtornado, o não mais seguro homem de antes tentou prosseguir a entrevista enquanto eu apenas alimentava os mesmos vagantes olhos e voz calada...
- Mas como assim a solidão? – perguntou ele apavorado como se fosse inadmissível tal resposta.
Mesmo enxergando muito nítida, refletida em seus olhos, a esperança de que minha resposta poderia mudar eu continuei. Prossegui porque estranhamente estava começando a saborear cada momento daquela entrevista desconcertante. Resolvi não prolongar meu silêncio e dar complemento a resposta mal aceita pelo homem a minha frente:
- ...Mesmo que remassem léguas em busca da minha ilha morreriam todas as minhas respostas na praia, mesmo que romanticamente atravessassem o atlântico em braçadas e mais braçadas minhas alternativas também morreriam na praia, porque a melhor companhia pra um coração cansado é a solidão e o tempo lerdo das ilhas vazias.
O repórter encerrou as perguntas e procurou outro entrevistado. Gravados em sua face estavam, agora, os mesmos vagantes olhos meus...
