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Mil e uma vozes


Soprou o vento fatos distorcidos
E antes que o sentimento de aversão
Aflorasse na pela de todos
A ponto de ser expelido...
Esquecimento.

É mais cômodo sobreviver
Tendo memória fraca!

Mas a faca de lâmina dupla
Ceifa o desejo de reação,
Ceifa a vontade, a coragem,
Açoita uma nova geração
De gente apática,
Despreocupada
Enquanto nas calçadas
A morte nem cheira tão mal assim.

As muitas bocas caladas
Foram programadas para manterem
Narizes defeituosos
Acostumados com podridão

Do outro lado da rua
Vai longe da infância
Armada até os dentes a criança
Pronta pra destruição.

Quem tinha o futuro nas mãos
Agora já tem presente incerto
E de concreto só a vida curta
Uma prostituta destemida tentando se alongar
Por um caminho oposto, torpe e sombrio.

O frio daquela alma
Não pode ser descrito
Não caberia nos versos
Do mais sensível e hábil poeta.

O que os olhos vêem
O coração ainda sente!

A cegueira não contaminou
As mãos inquietas
E a pena não cala
Mas a realidade exige mais.

Desta vez a poesia não será suficiente.

A realidade indecente
Terá meu verso não só escrito
Em folhas desvirginadas
Mas entranhado em seus ouvidos
Mil e uma vozes unidas
Gritarão pros ventos
Um grito de basta
Um pedido de paz.

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